A jornada de uma empresa que transforma lixo em regeneração
Uma entrevista reveladora sobre a missão de difundir a palavra da compostagem.
Com o aumento de pessoas mais conscientes e o número de empresas de compostagem no país, o que está por trás dessas narrativas é o desejo de gerar grandes mudanças que podem começar em pequenos gestos.
Em uma conversa franca e reveladora com a fundadora Lara Teixeira, mergulhamos no universo da compostagem da Minhocaria, uma empresa que não só transforma resíduos orgânicos em adubo, mas também cultiva uma verdadeira missão: disseminar a prática da compostagem como um ato de cuidado com o planeta.
Conhecida por sua abordagem acessível e comprometida, a Minhocaria tem conquistado corações e mentes, mostrando que a regeneração pode ser não apenas uma escolha, mas também um estilo de vida. Vamos adentrar o mundo da compostagem e descobrir como a Minhocaria está liderando essa revolução verde.
Leia a entrevista completa:
ag. casoca - Como surgiu a ideia de criar a Minhocaria e qual é a missão da empresa no contexto da sustentabilidade ambiental?
Lara - Em 2014 eu ganhei um minhocário do projeto Composta SP e comecei a compostar meus resíduos! Uns dois meses depois eu conheci o Alex (seu companheiro) e a gente quis fazer uma composteira pra casa dele.
Nessa busca descobrimos que dava pra fazer composteira com baldes reciclados de margarina e a primeira ideia do Minhocaria foi justamente essa, tornar mais acessível a compostagem, financeiramente falando mesmo, pois os baldes eram bem mais em conta do que as caixas normalmente utilizadas.
Nossa missão atualmente é difundir a palavra da compostagem! rs!
Como um missionário religioso mesmo, porque dentro da nossa bolha da sustentabilidade, achamos que todo mundo composta ou conhece sobre compostagem, mas quando você sai dela, vê que é menos de 1% das pessoas que conhecem sobre compostagem. E somado a isso, nossa missão também é compostar o que for possível no nosso pátio!
ag. casoca - Sabemos que muitas pessoas se perguntam o por quê é necessário pagar pelo serviço de coleta de resíduos orgânicos quando deveria ser um serviço público. Como você costuma responder essa pergunta?
Lara - Assim como você paga um plano de saúde e coloca seu filho numa escola particular porque entende que a saúde pública e a escola pública não funcionam como deveriam, você pode optar por pagar para que os seus resíduos tenham a destinação adequada, uma vez que você entende que o serviço ofertado pelo município não é a melhor escolha!
Ressalva aqui pra enaltecer o SUS, mas o nosso público, que paga por um serviço de coleta, é um público com um poder aquisitivo um pouco mais alto que costuma pagar pelos serviços citados (saúde e educação).
Outra resposta para esta pergunta é mostrar que como toda empresa, nós temos contas a pagar: aluguel, internet, luz, água, celular, combustível, impostos, contador e que estas contas não se pagam só com a venda do adubo, que diga-se de passagem, não cobre os custos nem da logística realizada para a coleta dos resíduos.
Além disso, de tudo que é coletado, apenas 26% viram adubo, o resto são perdas ao longo do ciclo, e estes 26% só estarão disponíveis para venda daqui 3 ou 4 meses, porque a compostagem é um processo. Então se colocar tudo isso na ponta do lápis, uma empresa de compostagem não sobrevive se não cobrar para coletar seus resíduos! No Brasil a cultura da doação de resíduos ficou muito enraizada por conta dos recicláveis, mas até mesmo para a coleta dos recicláveis os catadores deveriam cobrar, pois afinal de contas, eles estão prestando um serviço e todo tipo de serviço deveria ser pago!
ag. casoca - Quais são os principais benefícios ambientais da compostagem realizada pela Minhocaria em comparação com métodos tradicionais de descarte de resíduos orgânicos?
Lara - O principal benefício da compostagem é a mitigação da emissão de gases de efeito estufa durante a decomposição dos resíduos orgânicos. Quando você composta os resíduos ao invés de mandar para um aterro sanitário, você evita a emissão de metano, um gás com potencial poluidor 20x maior que o do gás carbônico. E quando você utiliza o adubo produzido no processo, você ajuda a fixar carbono no solo, o que também contribui com a diminuição do aquecimento global. Além disso, o adubo é um ótimo condicionador de solo, cheio de vida, que é ideal para a produção de alimentos orgânicos e sem veneno!
ag. casoca - Vocês têm parcerias com agricultores locais ou comunidades para aproveitar o composto produzido? Como essas parcerias impactam a comunidade e promovem a segurança alimentar?
Lara - Temos parceria com produtores do Assentamento Bela Vista, na qual trocamos composto orgânico por alimentos orgânicos toda terça na feira de orgânicos da cidade. E também temos parceria com a Horta Comunitária da Zona Norte, que fica localizada num bairro periférico de Araraquara e durante a pandemia se multiplicou em vários projetos como o “Terra Solidária”, “Agrogueto” e “Um toque salva vidas” que levaram hortas orgânicas e composteiras de tela para os quintais de 150 famílias do bairro.
ag. casoca - Quais são os principais desafios enfrentados pela Minhocaria no processo de compostagem e quais inovações estão sendo desenvolvidas para superá-los?
Lara - O principal desafio do processo tem sido a falta de mecanização para pátios de pequeno porte como o nosso. Estamos com uma quantidade mensal de resíduos que torna o manejo manual inviável em apenas duas pessoas e nossa opção por enquanto tem sido contratar mão de obra esporádica para ajudar na manutenção do pátio. Acredito que linhas de crédito e investimentos no setor para empresas pequenas seriam a solução ideal para estes problemas.
ag. casoca - Com o crescimento do mercado de compostagem, surgiu a Associação Brasileira de Compostagem em 2022 na qual vocês fazem parte. Pode nos contar qual é o objetivo da Associação e como esse grupo tem apoiado os profissionais?
Lara - o objetivo da Associação é fomentar políticas públicas e linhas de crédito voltadas à compostagem, tanto em pequena como em larga escala; além de difundir a prática e ajudar a viabilizar os negócios de seus associados. Hoje temos poucas cidades com uma legislação que obrigue os geradores a compostar seus resíduos orgânicos. Ela tem apoiado esclarecendo dúvidas, compartilhando informações e construindo pontes entre os órgãos públicos e o setor da compostagem.
ag.casoca - Para aqueles que estão interessados em começar a compostagem em casa, quais seriam seus principais conselhos ou dicas?
Lara - Apenas comecem! rs! Não tem coisa melhor do que experimentar numa composteira doméstica. As minhocas são os pets mais charmosos que você pode ter morando com você! No nosso instagram e no nosso site temos disponível um manual em pdf com dicas de compostagem doméstica e no nosso canal do youtube temos uma série com 5 vídeos curtos explicando o básico para que você possa começar sem medo a compostar seus resíduos!
Assista a esse vídeo de 2019, mas ainda atual:
ag. casoca - E para aqueles que estão pensando em começar uma empresa de compostagem, o que você tem a dizer pra eles?
Lara - conversem com empresas que já trabalham com isso. Se possível, visite os pátios dessas empresas, entre no grupo do whatsapp do “Composteiros do Brasil”, que é o grupo que deu origem à associação para tirar dúvidas, trocar informações e conhecer um pouco dos bastidores das empresas e os perrengues diários que elas enfrentam!
Sobre Lara:
Lara Teixeira Laranjo, bióloga, mestre em Zoologia, doutora em Biologia celular e molecular pela UNESP de Rio Claro. Participou do programa Composta SP em 2014 e em 2017 fundou junto com seu companheiro uma empresa de compostagem em Araraquara/SP que já compostou mais de 800 toneladas de resíduos.