Descobrindo chocolates que preservam florestas brasileiras - uma conversa com Renan Akashi
Uma iniciativa que conecta chocolates aos apoiadores da regeneração.
Onde a gente encontra chocolate com cacau brasileiro?
Se você nunca ouviu falar em “bean to bar”, sistema cabruca ou cacau fino, talvez você ainda não adentrou no mundo dos chocolates artesanais. É um mundo sem volta.
Durante minhas buscas por consumo mais consciente, conheci o Renan durante um bate papo sobre cacau durante a Design Week em São Paulo, e logo vi que seu propósito valia a pena ser contado. Ele criou o primeiro clube de assinatura de chocolates “bean to bar” focado no produtor. Um mercado que cresce preservando florestas com produtos mais saudáveis
A Cacau Clube promove uma curadoria de chocolates que normalmente não encontramos no supermercado, são produtos artesanais, e que grande parte ainda não têm escala suficiente para fazer parte de redes gigantes, por isso, sua solução de distribuição é essencial para pequenos e médios empreendedores.
Conheça o Cacau Clube, e pegue seu cupom - spoiler que ganha um mês de chocolate - no final da leitura :)
Bora pra entrevista?
ag.casoca - Como você avalia o cenário atual do cacau no Brasil em relação à preservação dos biomas e à sustentabilidade ambiental?
Renan - Da perspectiva de biomas, a produção de cacau no Brasil se concentra em duas regiões diferentes: a de Mata Atlântica e da região Amazônica. O destaque fica para a histórica região do sul da Bahia, cenário de tantas histórias de Jorge Amado e que está sendo retratada novamente com o remake da novela Renascer.
A história do cultivo do cacau parece um roteiro de filme mesmo, não é à toa que virou novela.
Nos anos 90, a região sofreu com a infestação de uma praga, chamada vassoura-de-bruxa, que dizimou 90% da produção de cacau na Bahia. Foram longos 30 anos de estudos e testes para que a região voltasse, em parte, a ter uma produção adequada. Os cacauicultores aprenderam a conviver com a doença, que existe até hoje.
E como é o manejo do cacau?
O manejo do cacau se dá pela principalmente pela cabruca, que é um sistema agroflorestal onde os pés de cacau crescem à sombra das árvores nativas da Mata Atlântica. Desta forma, a cultura do cacau – que é um fruto delicado que precisa de sombra e umidade para crescer – aparece como um grande aliado à proteção da mata nativa. A cabruca, que tem esse nome vindo da linguagem dos cacaueiros que era de “vem cá brocar a mata”, tem seus pré-requisitos: precisa ter ao menos 20 espécies de árvores nativas por hectare, conforme decreto estadual da Bahia.
Já na região Amazônica, o destaque fica pelo estado do Pará. O cacau é cultivado principalmente por comunidades ribeirinhas, junto ao cultivo de outras espécies, até com açaí.
O cacau tem desempenhado um importante papel de preservação ambiental nestas regiões, além da geração de emprego e renda nas comunidades.
Vejo que algumas entidades e o poder público tem voltado suas atenções para estas duas regiões, estabelecendo metas para que até 2030 o Brasil possa voltar a figurar entre os maiores produtores de cacau, só que de forma sustentável.
ag.casoca - Existe o cacau fino e o cacau commodity, explica gente qual é a diferença entre eles, por favor?
Renan - Exato. Em grandes linhas, o cacau commodity, que também é conhecido como bulk é aquele cacau que vai para a grande indústria, onde não há separação das melhores amêndoas ou controle preciso dos demais processos, como a fermentação ou secagem. Já o cacau fino é aquele que é separado na colheita por cumprir itens de um teste de qualidade, que vai desde a colheita da fruta no tempo exato, sem estar muito verde ou maduro, passando pela análise das amêndoas até o processo rigoroso de fermentação e secagem. Uma analogia simples é a do café comum e do café premium, a lógica é mesma quanto a escolha e armazenagem dos grãos.
ag.casoca - Há uma tendência crescente de chocolates que utilizam cacau fino em vez de commodity. Como vocês veem essa mudança no mercado e qual é o impacto disso na indústria do chocolate?
Renan - Esse é o movimento chamado Bean-to-Bar, ou seja, do grão à barra, que utiliza esse cacau fino para produção. Mas ainda é tudo muito recente, esse movimento começou cerca de 15, 20 anos atrás no EUA, na Califórnia, e chegou ao Brasil há uns 10 anos efetivamente.
Há 5 anos, havia menos da metade de marcas brasileiras de bean-to-bar que existe hoje.
Do ponto de vista do produtor de chocolate, vejo que estamos entrando em uma fase de chocolates mais autorais, de chocolate maker. Assim como um chef de cozinha, os chocolate makers colocam suas características e personalidades em cada barra. Ainda, pelo fato de utilizarem apenas o cacau fino como matéria-prima que demanda mais tempo e trabalho, consequentemente, o produto fica mais caro, gerando mais renda.
Da perspectiva do consumidor final, o chocolate da grande indústria está cada vez mais “saborizado” e recheado de componentes que substituem exatamente o cacau. Vira e mexe abre-se uma discussão sobre a qualidade dos produtos nas gôndolas. As pessoas têm buscado cada vez mais produtos saudáveis ou com seus ingredientes naturais de fato. No caso do chocolate, aqueles com menos açúcar e sem gordura hidrogenada, por exemplo.
Além disso, as novas gerações, no momento de compra, optam por marcas que tenham algum nível de responsabilidade social e/ou ambiental.
ag.casoca - O que é ser Bean to Bar?
Renan - Bean to bar é o nome que se dá a essa forma como os novos produtores de chocolate tem trabalhado, do grão à barra. Contudo, mais do que à forma, temos visto que o Bean to Bar é quase uma filosofia, pois não bastam apenas aspectos técnicos do produto, como ter cacau fino como matéria-prima ou não ter gordura hidrogenada, mas também a forma como remunera o cacaueiro, como está preocupado com sustentabilidade do cacau.
ag.casoca - A Cacau Clube tem como objetivo promover um consumo mais saudável, sustentável e de impacto social por meio do cacau. Quais foram as principais motivações por trás da criação da marca e como vocês enxergam o papel da empresa nesse contexto?
Renan - Nossa primeira intenção foi a de ajudar uma amiga que perdeu emprego. Ela fazia chocolates para fora como um hobby e, após perder o emprego, viu seu hobby se tornar sua principal fonte de renda.
Contudo, distribuir um doce artesanal/caseiro em larga escala não é tão simples, seja pela padronização, seja pela garantia de segurança alimentar. Aos poucos fomos conhecendo o mercado de chocolates Bean-to-Bar, que já está em um nível de micro indústria, e vimos que as dores são semelhantes: em geral, são pequenos e médios produtores que estão começando suas marcas e precisam de ajuda na divulgação dos seus produtos e de novos canais de distribuição.
Nós não somos produtores de cacau, nem de chocolate.
Nós somos a conexão entre os produtores e o cliente final.
Entendemos que nosso papel é o de fomentar a cultura dos chocolates Bean-to-Bar junto com as marcas, dando a oportunidade de a cada mês nossos assinantes conhecerem uma nova marca ao mesmo tempo que vão se familiarizando com a filosofia do cacau fino: que o cacaueiro que colhe lá na fazenda está recebendo a mais por isso; sobre o sistema agroflorestal de plantio do cacau, que ajuda a proteger vegetações nativas enquanto floresce com outros cultivos; além de receber um produto muito mais saudável, livre de gorduras hidrogenadas e menos açúcar.
ag.casoca - Por fim, como vocês convidam os consumidores a se tornarem sócios da Cacau Clube e conhecerem chocolates brasileiros? O que podem esperar ao se juntarem a essa jornada de consumo consciente e impacto social?
Renan - Este mercado está ainda em seu início e vai crescer bastante nos próximos anos. Porém, não são produtos fáceis de se encontrar. Nosso papel é o de buscar, compilar e entregar as melhores opções para que os nossos assinantes possam ter acesso aos melhores produtores de chocolate do Brasil.
Ainda, ao receber nossa box, você também está ajudando um pequeno/médio produtor que está colocando toda a sua energia e dedicação para produzir um chocolate único. Sem contar que ao consumir um produto de cacau fino, você está contribuindo para a preservação de áreas onde o cacau tem papel fundamental na manutenção dos biomas. É o que comentamos, vocês podem esperar por boas histórias e novas experiências todo mês!
ag.casoca - Como os leitores da Casoca News pode fazer parte do clube?
Renan - Em abril completaremos nosso 1 ano de vida e convidamos a todos que venha curtir esse novo momento do cacau brasileiro conosco.
Assine o plano Anual com o cupom PRIMEIROMES e tenha o 1º mês grátis para se encantar pelos chocolates Bean-to-Bar. Em nosso aniversário de 1 ano, tem uma marca super especial que topou fazer o mês com a gente, fiquem de olho!!
Quem é Renan?
Me chamo Renan Akashi, sou formado em administração pelo Mackenzie e cursando mestrado profissional em economia pela FGV. Trabalhei quase 9 anos em consultoria e depois passei por 2 startups, sendo uma delas de impacto em micro mobilidade urbana, com assinatura de e-bikes. Gosto de esportes em geral, de bons drinks e de viajar sempre que possível. Hoje, se alguém indicar um lugar que tenha alguma marca de chocolate, já vira prioridade na minha lista de lugares a visitar.